Conheça ‘Judas e o Messias Negro’, filme sobre Fred Hampton com Daniel Kaluuya

O ano de 2020 já carrega um grande contexto histórico antes mesmo de terminar, não só pela pandemia de coronavírus mas também pelos protestos em prol das vidas negras que tomaram conta do mundo – especialmente dos Estados Unidos.

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A onda de manifestações antirracistas começou em 26 de maio e durou 18 dias. O estopim foi a assassinato de George Floyd, que morreu em Minneapolis no dia 25 de maio, estrangulado por um policial branco. Essa não foi a primeira vez que algo desse tipo aconteceu e as pessoas foram às ruas justamente para que isso pare de se repetir.

Meses depois dessa paralisação surge o trailer de ‘Judas e o Messias Negro’, que traz um paralelo ao que aconteceu esse ano, mas em outro contexto. Na década de 1960, o ativista Fred Hampton, líder dos Panteras Negras, foi morto pelo FBI.

Em entrevista ao G1, os produtores do filme, Ryan Coogler, diretor do aclamado ‘Pantera Negra’, Charles D. King, o diretor Shaka King e o filho de Hampton, Fred Hampton Jr, falaram sobre a produção e importância de trazer essa história para o cinema.

Quem foi Fred Hampton?

Fredrick Allen Hampton foi um ativista norte-americano do Partido dos Panteras Negras. Ele se destacou por se tornar o filial de Illinois do grupo político e o vice-presidente do BPP (Black Panther Party) nacional.

Com sua posição, ele fundou a Rainbow Coalition, uma organização política multicultural para ajudar acabar com brigas entre gangues e buscar uma mudança social. Hampton estudou direito na faculdade para ter conhecimento do sistema legal para usar como defesa contra brutalidade policial – isso foi muito importante para ele e os Panteras Negras.

O nome dele ficou forte na luta pelas vidas negras e outros grupos que sofriam nas mãos da polícia em Chicago. Essa força desagradou as autoridades da cidade, dando início a uma ação conjunta do Departamento de Polícia de Chicago com o FBI.

A operação que assassinou Fred Hampton só foi bem sucedida com o trabalho do infiltrado William O’Neal, que foi informante do FBI. O’Neal se tornou um membro ativo dos Panteras Negras, mas isso não impediu que ele continuasse colaborando com polícia. Hampton foi morto em 4 de dezembro de 1969, em Chicago, em uma batida policial que matou também Mark Clark, outro membro do partido.

Adaptação cinematográfica

‘Judas e o Messias Negro’ veio a calhar com o cenário atual dos Estados Unidos. A obra contará como Fred Hampton se tornou um dos líderes dos Panteras Negras e também mostrará o lado de William O’Neal.

“Nós queríamos fazer da maneira certa. O fato é que esse crime, esse assassinato afetou pessoas reais até hoje. Não foi há tanto tempo atrás assim. Então a grande questão foi: como navegar com equilíbrio na seara do entretenimento, ao mesmo tempo em que tivemos que lidar com fatos reais?”, contou Ryan Coogler, produtor do filme.

O diretor do longa, Shaka King, que faz sua estreia cinematográfica com a produção, gostaria de dar voz a Hampton e também a William O’Neal com sua obra. King elogiou a atuação de LaKeith Stanfield, que dá vida a O’Neal na história.

“É incrível o que ele faz na tela, mas é isso que ele é e foi desafiador mostrar o que acontece com William depois do assassinato do Fred. A experiência dele tem muito a ver com o que acontece nos dias de hoje, quando as pessoas são manipuladas pelo sistema e acho que isso aconteceu com William O’Neal”, disse ele ao G1.

King também disse que os atores fizeram um preparo antes de embarcar na história. Daniel Kaluuya, que interpreta Hampton, quis conhecer os Panteras Negras para entrar no personagem. Kaluuya é britânico, então ele tomou esse cuidado antes de dar vida a uma figura norte-americana tão significativa.

Vale ressaltar que o diretor não se incomodou com o fato do ator não ser norte-americano. “Eu nasci nos Estados Unidos, minha família é caribenha e meu nome é sul-africano”, disse ele ao comentar sobre a nacionalidade de Kaluuya.

O filho de Fred Hampton participou da produção

Para que o projeto saísse do papel, King gostaria que Fred Hampton Jr., filho do líder dos Panteras Negras, participasse da adaptação do filme. Hampton Jr. seguiu os passos do pai e é também um ativista político. Atualmente ele é o presidente do Comitê de Prisioneiros de Consciência e do Partido dos Panteras Negras

“Não foi uma conversa fácil, muitas horas, muitos dias e noites de conversa. O legado era a coisa mais importante para a vida dele. Tentamos inovar a forma de como o legado dele seria passado e, ao mesmo tempo, ser realista e reconhecido por minha ou a próxima geração”, contou Hampton Jr.

A história de ‘Judas e o Messias Negro’ aconteceu há 51 anos e, infelizmente, ainda tem um contexto atual. “Tudo o que Fred falava era verdadeiro. O sistema ainda está aqui. Estamos na mesma luta. Estamos lutando contra o mesmo sistema”, comentou Shaka King.

‘Judas e o Messias Negro’ ainda não tem previsão de lançamento no Brasil.