Em edição virtual, Fantaspoa bate 200 mil acessos e celebra produções nacionais Em edição virtual, Fantaspoa bate 200 mil acessos e celebra produções nacionais

Em edição virtual, Fantaspoa bate 200 mil acessos e celebra produções nacionais

Festival de Porto Alegre conta com mais de 130 filmes disponíveis gratuitamente para assistir online, como o aguardado horror nacional ‘Skull’

Matheus Mans   |  
30 de julho de 2020 10:01
- Atualizado em 29 de julho de 2020 19:08

O Fantaspoa, tradicional festival de filmes de terror e fantasia de Porto Alegre, está digitalizado. Desde a última sexta-feira, 24, e até o próximo domingo, 2, o evento virtual conta com mais de 130 produções, entre longas e curtas, de 35 países diferentes, disponíveis no streaming Darkflix

A iniciativa surge após a organização do evento adiar e, posteriormente, cancelar a edição física do evento na capital gaúcha. Afinal, com o avanço da pandemia de coronavírus, os responsáveis pelo Fantaspoa perceberam que seria inviável e perigoso aglomerar pessoas como acontece todo ano.

“O Fantaspoa online está sendo uma saída para a impossibilidade de realização da [edição física]”, diz João Fleck, diretor do evento, ao Filmelier. “É um festival que movimenta a comunidade cinematográfica. Temos festas, palestras, debates. Isso é impossível de levar para o virtual”.

‘Ghost Master’ é um dos filmes mais comentados do Fantaspoa (Foto: Divulgação/Magnetize)

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Mas apesar da aparente tristeza de Fleck com a não realização da edição presencial, os números não poderiam estar melhores. Nos 4 primeiros dias foram 200 mil acessos à Darkflix, com mais de 15 mil views nos filmes. Na edição tradicional são 18 dias de evento e cerca de 11 mil espectadores.

“Já tivemos mais espectadores em menos da metade do festival online do que na edição real”, comemora Fleck. No entanto, ele ressalta: “eu não acho que seja viável manter um festival assim, talvez edições híbridas, mas totalmente virtual, quando os cinemas voltarem a funcionar, é bem difícil”.

Catálogo extenso

O que mais chama a atenção nesta edição online do Fantaspoa, e que difere de outros festivais onlines realizados até o momento, é o tamanho do catálogo. Como já mencionado, são mais de 110 produções. São curtas e longas de várias nacionalidades e estilos, a alguns toques do mouse.

Dentre os principais destaques, estão filmes como ‘Aviva’, produção que borra os limites de gênero de Boaz Yakin (‘O Internato’, ‘Duelo de Titãs’); o aguardado e comentado terror ‘Zana’, da Albânia, e exibido no Festival de Toronto; e o lindíssimo curta ‘Rebooted’, sobre monstros de outra época. 

O curta ‘Rebooted’ fala sobre monstros clássicos deixados de lado no cinema de efeitos especiais (Foto: Divulgação/Latenite Films)

Isso sem falar de produções alternativas e que nunca teriam espaço no cinema brasileiro se não fosse o Fantaspoa. É o caso de ‘Butt Boy’, produção independente sobre um homem que tem um estranho poder de fazer com que pessoas desapareçam em sua bunda. Isso mesmo. Esse é o filme.

‘Skull’ no Fantaspoa

Apesar do grande catálogo internacional, há espaço também para produções brasileiras. Mas a mais aguardada é ‘Skull: A Máscara de Anhangá’, filme que será exibido entre os dias 31 de julho e 2 de agosto no Fantaspoa, após uma passagem elogiada em festivais internacionais.

Assim, na trama, o espectador embarca na história envolvendo “A Máscara de Anhangá”, um artefato místico que ressurge em São Paulo, encarnando uma entidade milenar e iniciando uma série de crimes sangrentos. Sobra para uma policial e para o guardião da máscara resolverem a solução. 

“‘Skull’ é um filme que trata do embate entre o mundo antigo e o mundo moderno”, conta Armando Fonseca ao Filmelier. “São abordados temas como corrupção, desigualdade social, ganância. Traçando um paralelo da realidade do espectador com as cenas inseridas no contexto de terror”. 

‘Skull’ se passa na cidade de São Paulo (Foto: Divulgação/Boccato Productions)

O Filmelier já conferiu ‘Skull: A Máscara de Anhangá’ e as críticas internacionais positivas fazem jus à obra. Com um visual arrebatador e uma história que mistura bem os elementos do noir com o horror, o filme cativa e volta às origens do terror brasileiro, cada vez mais em voga.

“Em 2012, estávamos começando a primeira temporada do Cinelab e, no brainstorm dos roteiros dos episódios, havia uma história de serial killer. Assim, foi aí que criei ‘Skull’ visualmente”, conta Kapel Furman, diretor. Depois, o cineasta foi ‘esculpindo’ suas ideias e se valendo de mitologias.

“Eu queria fugir da ‘mitologia cristã eurocêntrica’ pelo excesso de mídias que exploram isso. Por outro lado, a América pré-Colombiana possui uma riqueza imensa de mitologias. Por que não fundir tudo isso na criação dessa personagem?”, questiona Furman, responsável pelo visual de ‘Skull’.

Terror brasileiro

Por fim, a expectativa é com a exibição de ‘Skull’ no Fantaspoa e, principalmente, a alavancada de terror no Brasil. Afinal, nos últimos anos, o gênero tem ganho cada vez mais atenção por conta de produções como ‘As Boas Maneiras’ ou, ainda, o cinema autoral de Rodrigo Aragão.

Dentre da produção de horror nacional, ‘As Boas Maneiras’ é um dos filmes de maior sucesso de crítica e público (Foto: Divulgação/Globo Filmes)

“Mesmo com todas as dificuldades que a cultura brasileira está passando, o pessoal continua produzindo e indo atrás para construir um cinema fantástico com autoria e qualidade”, afirma Kapel Furman, que também foi um dos diretores do interessante filme episódio ‘Histórias Estranhas’.

E será que esse cinema autoral e independente feito no Brasil, brincando com fantasia e horror, pode sofrer um baque com a crise e a pandemia?

“Cineastas que trabalham com cinema de gênero estão [mais preparados para enfrentar este momento], pois já estamos acostumados a trabalhar com limitações”, afirma Fleck, diretor do Fantaspoa. “Acredito que vamos ver, durante bons anos, em todos os gêneros a influência da pandemia”.